terça-feira, 17 de maio de 2011

"Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma
estrutura agrandada pelos anos e
o peso dos fardos bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns
com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar quando antigamente
quereria apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais
paciência e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem
do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo
e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam
destroços mas o sonho interminável
das sereias."

Lya Luft.Canção na plenitude. Livro:"Secreta Mirada". São Paulo:Editora Mandarim, 1997.P. 151.

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