segunda-feira, 25 de abril de 2011

LIBERDADE


Sobre esta página escrevo 
teu nome que no peito trago escrito 
laranja verde limão 
amargo e doce o teu nome.

Sobre esta página escrevo 
o teu nome de muitos nomes feito água e fogo lenha vento 
primavera pátria exílio.

Teu nome onde exilado habito e canto mais do que nome: navio 
onde já fui marinheiro 
naufragado no teu nome.

Sobre esta página escrevo o teu nome: tempestade. 
E mais do que nome: sangue. Amor e morte. Navio.

Esta chama ateada no meu peito 
por quem morro por quem vivo este nome rosa e cardo 
por quem livre sou cativo.

Sobre esta página escrevo o 
teu nome: liberdade.

Manuel Alegre


Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre

Uma canção de eleição


25 de Abril SEMPRE!!!!!



"A gente carrega dentro do peito todos os sonhos do mundo.
Isso é tão bonito, tão encantador, tão cheio de esperança. 
Acho que é isso: precisamos da esperança, precisamos acreditar naquela fagulha 
que fica lá dentro dando a entender que tudo vai clarear, clarear, clarear."


Clarissa Corrêa

sábado, 23 de abril de 2011

Spring mood


Fotos especiais

Ingrid Bergman and Isabella Rosellini in 1967

:P

Hilariante...

ÚLTIMA HORA:

"Sócrates internado no Júlio de Matos com alucinações!!
Só ouve passos de coelho e portas a bater."
"Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém...
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim...
E ter paciência para que a vida faça o resto..."



William Shakespeare

Dia do Livro


domingo, 17 de abril de 2011

Não penses

"Não penses. Que raio de mania essa de estares sempre a querer pensar. Pensar é trocar uma flor por um silogismo, um vivo por um morto. Pensar é não ver. Olha apenas, vê. Está um dia enorme de sol. Talvez que de noite, acabou-se, como diz o filósofo da ave de Minerva. Mas não agora. Há alegria bastante para se não pensar, que é coisa sempre triste. Olha, escuta. Nas passagens de nível, havia um aviso de «pare, escute, olhe» com vistas ao atropelo dos comboios. É o aviso que devia haver nestes dias magníficos de sol. Olha a luz. Escuta a alegria dos pássaros. Não penses, que é sacrilégio."


 Vergílio Ferreira, in "Conta-corrente - nova série - 2"

Vaidades

Lá onde eu trabalho, aparecem à hora de almoço muitos vendedores nomeadamente, ciganos(e digo isto com todo o respeito pela classe), uma senhora que têm uma loja e também vende ali os seus produtos e uma frutaria ambulante. Ora, na sexta-feira vi uns chinelos todos giros e não fui de modas, comprei-os. Ontem, já andava toda lampeira com eles. Quando os tirei ao final do dia, reparei que estavam a perder o grafismo. Também, quem é que me manda andar toda pindérica, armada em chique com chinelos da Roxy a 3 €???
Hoje, quando o Emanuel saiu à rua, reparou que a nossa cadelita tinha desaparecido. Tanto puxou, puxou que rebentou com a coleira. Não comecem a pensar que a maltrato. Ela só está presa porque passa a vida a saltar o muro. Vai daí, foi a solução que encontrámos até colocarmos protecções. Quando ela decidiu regressar a casa, nem imaginam. Completamente imunda e malcheirosa. Nem fomos de meias medidas...banho, banho, banho. Terminado o banho o que é que ela fez?? Sacudiu-se toda e foi-se deitar na terra. Ele há com cada uma...

"Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. (…) As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração. 
E o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar. Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. (…) Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. 
Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é."

Fernando Pessoa

sábado, 16 de abril de 2011

No trabalho falamos de muitas coisas. As conversas são variadas e algumas enriquecedoras. Ultimamente, têm sido sobre a crise que o nosso país atravessa, sobre a entrada do FMI, sobre o Sócrates, enfim, um aborrecimento. Até que alguém, se lembrou de voltar a um assunto muito apetecido por todas, culinária. Confesso, que não gosto muito de cozinhar, que me aborrece ter de fazer jantar todos os dias, ter de lavar a loiça todos os dias, que frete. Mas, quando surge uma receita nova e apetecível, é ver-me toda entusiasmada de volta do fogão. Foi o que aconteceu na quinta-feira. Deram-me esta receita:

Tarte de Morangos

150g de farinha
120g de açucar
2 ovos
60g de manteiga
1 boca doce morango
1 gelatina morango
morangos

Mistura-se muito bem a manteiga e o açucar. Junta-se os 2 ovos e, por fim, a farinha. Coloca-se na tarteira e vai ao forno. À parte faz-se a gelatina e deixa-se arrefecer. Prepara-se o pudim boca doce. Quando a massa estiver pronta, deixa-se arrefecer. Depois coloca-se o pudim por cima. Coloca-se os morangos aos pedaços.   Quando a gelatina começar a ficar quase solidificada, colocamos por cima dos morangos, et voilá...o resultado é este:

Deliciem-se e tenham um bom fim-de-semana...:)

Melhor Prova duma Real Amizade

"A melhor prova duma real amizade está em evitar os compromissos entre aqueles que se estimam. Ainda que devendo muito aos que muito me louvam, eu não quero ser-lhes obrigada pela gratidão. Mas sim grata porque estou com eles, devido a circunstâncias que a todos nós agradam e são um laço mais entre nós, sem constituírem um dever. Eu pretendo dizer da amizade o que Diógenes dizia do dinheiro: que ele o reavia dos seus amigos, e não que o pedia. Pois aquilo que os outros têm pelo sentimento comum não se pede, é património comum. Neste caso, a amizade."


Agustina Bessa-Luís


Deixo aqui o comentário do Sr. João Chap com o qual concordo plenamente: 


"quando dois destinos estão unidos desta maneira, não são precisos números de telefone ou fotografias para lembrar essa amizade.
as nossas memórias e um possível reencontro, sabe-se lá aonde ou quando, tratarão de comprovar ou desmentir esse sentimento..."

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O aniversário do gênio e pioneiro do cinema Charlie Chaplin foi lembrado nesta sexta-feira pelo Google em sua página inicial. Um vídeo elaborado pela companhia sobre Chaplin, nascido em 16 de abril de 1889, substitui o tradicional logo. Na produção, um ator interpreta momentos vividos pelo inglês em seus clássicos filmes.

Fazer as pazes...

É, parece que foi o que eu fiz com o meu amigo virtual do facebook. Eu ainda me sinto magoada por ele me ter excluído da sua lista de amigos, por desde o dia 03/03/11 nunca mais termos conversado, por ele partilhar assuntos do seu gosto e da sua vida pessoal e profissional com outros e não comigo, por não se interessar como eu estou...disparate não é?? Aceitá-lo de volta sentindo-me eu assim. Pensei dar uma oportunidade à amizade. Afinal de contas, foi um ano de conversas, de risadas, de partilha de interesses.
Devia ter ido a correr ver a página dele, saber o que ele têm feito. Não consegui. Não consigo. Tenho medo do que vou ver, do que vou ler. Acho que na hora iria apagá-lo da minha lista de amigos e então seria para sempre. Por isso, vou ficar no meu canto, muito sossegadinha, em silêncio até que a mágoa passe...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dia Internacional do Beijo

"A vida fica muito mais fácil se a gente sabe onde estão os beijos de que precisamos."

(Mário Quintana)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

"Somos um grande País, Somos um grande Povo"

Foi com estas palavras que o Dr. Mário Soares terminou a sua participação no primeiro programa de entrevistas chamado "Portugal e o Futuro".

O antigo Presidente da República fala sobre a crise política, financeira e social do país e aponta caminhos.


Mário Soares é o primeiro convidado de Fátima Campos Ferreira num ciclo de entrevistas aos senadores da República. O antigo Presidente da República é entrevistado segunda-feira, às 21.00, após o Telejornal, na RTP1, num especial informação inserido na operação Portugal e o Futuro, delineada pela nova direcção de Informação liderada por Nuno Santos.
Num momento particularmente tenso em Portugal, com um primeiro-ministro demissionário, um governo de gestão e o país à espera do resgate financeiro da Europa, o antigo Chefe de Estado, que acolheu o FMI em Portugal quando era líder do executivo, falará sobre a crise e o estado da Nação.
"Faz todo o sentido iniciar este ciclo de entrevistas com o Dr. Mário Soares. Ele é o número 1 em termos de dignidade e referência. É a ele que se deve a Liberdade de Abril e também a entrada de Portugal na União Europeia. É o maior exemplo de cidadania activa e interventiva que temos", explicou Fátima Campos Ferreira ao DN.
http://www.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=27506&e_id=1&c_id=1&dif=tv

domingo, 10 de abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

Fascinante...


‎"Se sou amado...quanto mais amado...mais correspondo ao amor.

Se sou esquecido...devo esquecer também...


Pois amor é feito espelho: tem que ter reflexo."


Pablo Neruda

:)


“Alma leve tem formato de borboleta.”

Renata Fagundes

Que almofadas tão giras!!!

Achei fofinho...não gosto desta palavra mas foi o que senti...


Preciso encontrar um equilíbrio entre razão e coração


:))))))))

Surprise, surprise!!! Alguém dos EUA, veio visitar-me!! Logo no dia que eu estava de rastos, e que não consegui conter o sono. Sendo assim, não consegui ver de que parte dos EUA. Shit...
Será que era quem eu estou a pensar???

Então não é...

que eu adormeci, no dia em que aconteceram coisas fantásticas, aqui no blog!!!!
A saber, 1º, tenho um novo seguidor, melhor, uma nova seguidora. Não é que o meu blog seja extraordinário, ainda para mais que tenho andado meio depressiva mas sabe bem esta interacção. Sabe bem, imaginar pessoas longe de mim a ler o que eu aqui coloco, por vezes a concordar, outras vezes nem tanto. Por isso, aqui quero deixar as boas-vindas. Obrigada pela preferência :)
P.S. Amigas, não fiquem com ciúmes. Talvez por já vos conhecer visualmente, não vos tenha feito igual recepção. São todas bem-vindas :D

terça-feira, 5 de abril de 2011

É, vai passar...


" Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez' "

Caio Fernando Abreu

lol

"Homens são como um bom vinho. Todos começam como uvas, e é dever da mulher pisoteá-los e mantê-los no escuro até que amadureçam e se tornem uma boa companhia pro jantar."


Você pode ir embora e nunca mais ser a mesma.
Você pode voltar e nada ser como antes.
Você pode até ficar,pra que nada mude,mas aí é você que não vai se conformar com isso.
Você pode sofrer por perder alguém.
Você pode até lembrar com carinho ou orgulho de algum momento importante na sua vida: formatura,casamento,aprovação no vestibular ou a festa mais linda que já tenha ido,mas o que vai te fazer falta mesmo,o que vai doer bem fundo,é a saudade dos momentos simples:
Da sua mãe te chamando pra acordar,
Do seu pai te levando pela mão,
Dos desenhos animados com seu irmão,
Do caminho pra casa com os amigos e a diversão natural
Do cheiro que você sentia naquele abraço,
Da hora certinha em que ele sempre aparecia pra te ver
E como ele te olhava com aquela cara de coitado pra te derreter.
De qualquer forma,não esqueça das seguintes verdades:
Não faça nada que não te deixe em paz consigo mesma;
Cuidado com o que anda desabafando;
Conte até três (tá certo,se precisar,conte mais);
Antes só do que muito acompanhado;
Esperar não significa inércia,muito menos desinteresse;
Renunciar não quer dizer que não ame;
Abrir mão não quer dizer que não queira;
O tempo ensina,mas não cura.

(Martha Medeiros)

Ele acontece-me cada uma...

O ano passado, recebi um convite de um sr brasileiro para ser sua amiga no facebook. Julgo que dava para ver o mural dele, achei-o com cara de boa pessoa e aceitei. Tudo muito normal, até começar o campeonato do Mundo de Futebol. Nessa altura, eu estava sempre online e ele metia conversa. Ora eu, não sou muito conversadora e os brasileiros utilizam termos que eu não percebo. Conclusão, passei a ficar offline. Tudo continuou normal. Às vezes ele punha gosto nas minhas fotos. Comentava. Por aí.
O dito sr. entretanto começou a namorar uma sra., também ela brasileira. Tudo normal. O dito sr. fez anos no dia 25 de Março. Como ele sempre foi simpático comigo, escrevi esta mensagem no seu mural: 
"Olá F :)
Desejo-lhe um Feliz Aniversário!!! Um abraço
M
P.S. Sabe, ontem estava a ler um blog de uma jovem brasileira e achei imensa graça porque
ela estava a dar as boas-vindas ao Outono. Engraçado estas diferenças de estações e
horárias em hemisférios opostos. Aqui chegou a Primavera, as andorinhas, as flores e algo
que adoro, CALOR E SOL."
Ora, no dia seguinte, recebo um convite de amizade da dita 
sra. Eu, inocentemente aceitei. No domingo escrevi um comentário, num video de um amigo
e, lembrei-me da sra. Vou ao mural dela e qual não é o meu espanto, já não somos
"amigas". Alguém me ajuda a compreender o que se passou??

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Why should I ??


"Não passam as dores, também não passam as alegrias. Tudo o que nos fez feliz ou infeliz serve pra montar o quebra-cabeça da nossa vida, um quebra-cabeça de cem mil peças (...) Não há nenhuma peça que não se encaixe. Todas são aproveitáveis. Como são muitas, você pode esquecer de algumas, e a isso chamamos de "passou". Não passou. Está lá dentro, meio perdida, mas quando você menos esperar, ela será necessária para você completar o jogo e se enxergar por inteiro."


Martha Medeiros

Nó desfeito

"Crie laços com as pessoas que lhe fazem bem, que lhe parecem verdadeiras e desfaça os nós que lhe prendem àquelas que foram significativas na sua vida mas infelizmente, por vontade própria, deixaram de ser.

Nó aperta, laço enfeita…

"Simples assim."


(Silvana Duboc)
"Paro às vezes à beira de mim próprio e pergunto-me se sou um doido ou um mistério muito misterioso."
Fernando Pessoa

domingo, 3 de abril de 2011

Vou só lá abaixo, à minha cozinha, comer qualquer coisinha, para ver se isto melhora.

E para me deixar ainda mais irritada...

...li hoje, que o Michael Bublé casou-se ontem em Buenos Aires,com aquela esquelética sem graça da Luisiana Lopilato. Dá para acreditar??? E o vestido??? Não conseguiu arranjar algo mais destapado??? E as mamas?? Aposto que são de silicone!!! Por falar em apostar, quanto tempo acham  que vai durar o casamento?? 

Magoa-me...

Fim-de-semana difícil. Ando irritadíssima, insuportável, super chata. Magoa-me sentir-me desprezada, magoa-me a indiferença, magoa-me não saber nada, magoa-me tanta coisa. Passaram 13 dias desde a última vez que falámos. E hoje deu-me saudade das conversas, dos sorrisos, das questões. Eu devia ter percebido que era a nossa última conversa. Ele escreveu sem utilizar diminutivos, sem abreviar as palavras. Detesto quando fazem isso. Quando "atropelam" as palavras. Hoje deu-me vontade de ceder, de enviar uma mensagem mas depois lembrei-me onde ficaria a minha dignidade e retrocedi. Afinal, de contas não fiz nada de mal, fui sempre honesta e verdadeira. É, deve ter sido o meu erro. Acho que ando a perder o "faro" em relação às pessoas. Enganar-me em relação a duas pessoas num ano é demais.
Sabes, o que eu desejo, indiano de uma figa, que na tua próxima reencarnação sejas um daqueles indianos que andam cá em Portugal a dizer: "Qué frô??".
Raça danada!!  Namastê praqui, namastê práli, Gandhi assim, Gandhi assado, palavras pomposas e bonitas e na prática não têm valores nenhums. GRRRRRRRRRRRRRRR...
"Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja. Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas - porque tenho uma mente fértil e delirante - e porque posso achar errado - e ter que me desculpar - e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia. Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crêr que é para sempre quando eu digo convicto que " nada é para sempre." 


Gabriel Garcia Marquez
'Esta velha angustia, esta angustia que trago há séculos em mim, transbordou da vasilha, em lágrimas, em grandes imaginações, em sonhos em estilo de pesadelo sem terror, em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum. Transbordou. Mal sei como conduzir-me na vida com este mal-estar a fazer-me pregas na alma! Se ao menos endoidecesse deveras! Mas não: é este estar entre, este quase, este poder ser que..., Isto. Um internado num manicómio é, ao menos, alguém, eu sou um internado num manicómio sem manicómio. Estou doido a frio, estou lúcido e louco, estou alheio a tudo e igual a todos: estou dormindo desperto com sonhos que são loucura porque não são sonhos. Estou assim... '


Fernando Pessoa

sábado, 2 de abril de 2011

Essa tristeza sem motivo

''Dia desses, eu estava sentada no sofá de casa, lendo, quieta, desprevenida, quando percebi que ela foi chegando, se aproximando devagarzinho, até que se acomodou, me abraçou e ficou. Não sei se você tem isso, talvez todos nós tenhamos, uns mais, uns menos – essa companhia inesperada de uma tristeza que vem sem avisar, sem querer saber dos planos para aquele dia."


Liliane Prata

O papel é paciente


Escrever
- e você sabe disso -
pode eliminar essa sensação de gratuidade no existir,
de coisas o tempo todo fugindo e se transformando em passado.
Eu acho então que se escrever te dá um sentido para estar viva
(ou a ilusão de um sentido, que importa?),
então vai e escreve e diz tudo e rasga o coração,
as vísceras, expõe tudo, grita, esperneia
- no papel."

Caio Fernando Abreu

Será que vale a pena mostrarmos quem somos de verdade?

"Só você conheceu a mulher corajosa que admitiu todos os medos, todas as neuroses, todas as inseguranças, toda a parte feia e real que todo mundo quer esconder.
Ninguém nunca me viu tão nua e transparente como você, ninguém nunca soube do meu medo de não ser boa o suficiente.
Só você viu meu corpo de verdade, minha alma de verdade, meu prazer de verdade,meu choro embaixo da coberta com medo de não ser bonita e inteligente. Só para você eu me desmontei inteira porque confiei que você me amaria mesmo eu sendo desfigurada, intensa e verdadeira, como um quadro do Picasso. "

Tati Bernardi

É, se calhar é isso...

"Ficar bem nem sempre deixa outras opções . É estranho quando as coisas simplesmente têm de terminar. É o estágio onde todos os sentimentos já evoluíram para um nada. É o nada que você optou para parar de sentir dor. No início você briga, chora, faz drama mexicano . Então percebe que é cansativo demais manter esse jeito de levar as coisas . Acostuma-se ... Não que pare de doer, mas que cai no seu entendimento que às vezes perdemos algo e não há solução . No fim você coloca um sorriso no rosto e finge que é sincero, até que a vida o faça realmente ser . Talvez os amores eternos sejam amenos e os intensos, passageiros. É isso."


Caio Fernando Abreu

Um texto delicioso do MEC

"Há qualquer coisa de errado na família. A família não funciona. Sei que, como conservador, deveria defender a família. Mas não consigo. A família é indefensável. É um equívoco. É um efeito de economia. A família está a dar cabo das pessoas. E das famílias.


Porque é que as pessoas, só por serem consanguíneas umas das outras, hão-de viver juntas?

As crianças haviam de ser separadas dos pais desde a mais tenra idade. Os próprios haviam de ser separados um do outro desde a mínima ternura. Só assim é que o amor poderia crescer e a família continuar.

Há algo de promíscuo na maneira como as famílias vivem. As pessoas vivem umas em cima das outras. São obrigadas a ver o mesmo canal de televisão, a comer o mesmo arroz de polvo, a ouvir as mesmas discussões, a ver os mesmos roupões e até a cheirar o mesmo chulé dos mesmos chinelos anos 40 do avô.

É pouco saudável. Não admira que toda a gente queira bater a asa à primeira oportunidade. À ganância. Para cair noutro ninho, com outro marido e outros filhinhos, mas ainda pior. É por estas e por outras que as famílias se separam cada vez mais - porque não podem viver juntas.

Tenho para mim que o homem, como a mulher, não nasceu para viver em grupo. Uma casa de banho, por exemplo, jamais se deveria partilhar. Não dá jeito. É embaraçoso. Faz prisão de ventre. Defecar é um direito básico, a cujas sequelas atmosféricas ninguém deveria estar sujeito. Sobretudo em casas de banho interiores.

Se se quer conservar a família, é preciso mantê-la afastada. Mesmo contra a vontade. A separação cria saudade. A distância facilita o respeito. Marido e mulher deveriam ser obrigados a convidar-se diariamente para jantar. As refeições obrigatórias sabem sempre mal. O convívio forçado à mesa -«Passa a hortaliça, não tires os macacos do nariz» - não é uma prova de amor, é um refeitório de penitenciários.

A partir dos seis ou sete anos, as crianças necessitam de uma casinha própria, onde o acesso de adultos esteja vedado, excepto em casos de incêndio, varíola, consumo comprovado de vodka, et caetera. Em suma, as crianças precisam de um apartamento separado, onde se possa escrever nas paredes, fazer barulho, torturar animais de estimação, disparar pressões de ar e tudo o mais. A família ideal é um complexo habitacional com três chaves. Digamos um 2º andar Esquerdo, Frente e Direito. No Esquerdo mora a Mãe. No Frente moram os filhos e a criada. No Direito mora o Pai. Para efeitos de controlo, todos têm a chave uns dos outros, mas só para casos de emergência, porque são todos obrigados a tocar à campainha antes de entrar. Excepto em casos urgentes de carência de carinho («Ó Pai, está uma bruxa atrás das cortinas») ou de ciúmes («Maria José, Maria José - com quem é que estás a falar?»).

Cada apartamento pode ter apenas uma assoalhada. Mais vale viver em três T1's separados na Reboleira do que tudo a monte numa enorme casa de família no Estoril. As pessoas precisam de estar sozinhas, de curtirem e curarem as suas neuras na maior privacidade, de ouvir as músicas de que gostam sem chatear os outros, de se escaparem, de se fazerem caras e rogadas, de receber as pessoas de quem mais ninguém na família gosta.

Só separada é que a família pode sobreviver. Contígua mas não comunitária. Adjacente mas não jazente. Se um casal for impelido, por razões habitacionais, a tocar à porta, a levar flores, a convidar a jantar, a fazer a corte para poderem dormir os dois juntos, o amor pode durar muitíssimo mais. Uma família que tenha três moradas é feliz. Pode escrever cartas, pode trocar postais.

O horror da família é a proximidade. É horrível quando os pais ouvem os filhos a fazer concursos de puns, quando os filhos ouvem os pais a gemer e o colchão a guinchar, os gritos "Não! Não! Sim!" e depois o inevitável chapinhar do bidé. É indecente quando a mulher é obrigada a dormir ao lado de quem quis ainda há pouco esfaquear e que ainda por cima está a ressonar que nem um porco. Cada qual com a sua banda sonora - eis o lema familiar do futuro. O hino quotidiano das famílias portuguesas, que consiste na audição comunitária do barulho do autoclismo não é, nem nunca será, um cimento de solidariedade.

Para uma família ser feliz, é necessário haver sedução. Os filhos têm de ser charmosos para encantar os pais, os pais têm de se esforçar para educar convincentemente os filhos. E marido e mulher, caso queiram permanecer juntos, têm de passar a vida inteira a engatar-se. O mal da família é a facilidade. É pensar que aquele amor já é assunto arrumado.

O segredo é conviver em vez de coabitar. A família feliz constitui-se por vizinhos apaixonados, por condóminos de sangue, por um poligrupo sentimental. As pessoas só estão juntas quando querem estar. Só partilham o que querem partilhar. Passam a vida a entreconvidar-se. Os pais aliciam o filho: «Ouve lá - se nós te comprarmos uma Harley Davidson, não queres ir até ao Jardim Zoológico connosco?» Os filhos dão a volta aos progenitores: «Ó pai, o vídeo está avariado, conta-nos uma história.» O marido alicia a mulher «Vá lá, Maria José - fica comigo hoje à noite. Tenho caviar e champanhe no frigorífico, comprei o compacto do primeiro LP dos Smiths e a empregada mudou hoje os lençóis... e juro que amanhã de manhã eu também me levanto cedo e vou contigo ao oftalmologista...»

Uma família que é obrigada a convencer-se, a seduzir-se, a respeitar-se mutuamente é uma família que pode durar para sempre. Família maçada acaba despedaçada. O mal da família é um problema de má-criação e de falta de respeito. Os familiares mostram-se incapazes de viver com civilidade, gritam, insultam-se, abusam do seu poder.

Se um miúdo, quando leva um estalo, puder fechar-se uma semana no seu apartamento a ouvir heavy metal a altos berros; se uma mulher, quando o marido a chatear, puder puxar da agenda de solteira e passar o resto do dia a fazer telefonemas a ex-namorados; se um marido, maltratado pela mulher, tiver uma sala onde possa receber os amigos, para jogar à lerpa, beber água-pé e visionar videocassetes da Cicciolina, o conflito desagudiza-se naturalmente.

É uma questão puramente arquitectónica. Mais tarde ou mais cedo, como é regra do amor, as saudades superam os ressentimentos e as campainhas começam a tinir, e os "desculpa lá" recomeçam a ressoar. As pazes fazem-se de livre vontade. Os beijinhos dão-se de bom grado. A família reúne-se, no verdadeiro sentido da palavra. E reina a concórdia.

Na versão actual, exceptuando as famílias que vivem em grandes mansões com tantas alas e governantas que os membros só se vêem à hora de jantar, a família portuguesa é um convite à promiscuidade. Os pais reprimem os filhos, querem sempre ver o canal errado, insistem em comer carapaus grelhados, obcecam-se com a conta da luz, não adormecem até chegarem as crianças e por isso dormem pouco e por isso contraem doenças nervosas e por isso culpam os filhos. Os filhos, por sua vez, são indiferentes ao amor dos pais, ingratos, insolentes, intratáveis, gastadores inveterados e, ainda por cima, profundamente infelizes.

Nas situações mais extremas de proximidade familiar, ou seja, nas barracas, os homens batem nas mulheres e acordam as crianças, os avós atam-se aos vãos das portas, os pais violam as filhas, os irmãos disparam caçadeiras contra os pais, os cunhados telefonam para O Crime. E tudo durante a novela, enquanto o cheiro dos rissóis se vai entranhando no terilene dos lençóis.

A família é uma instituição demasiado preciosa para se deixar destruir pela coabitação obrigatória, pela prepotência paterna e pela falta quase absoluta de privacidade. O amor é demasiado raro e difícil para se estar a esbanjar na rotina quotidiana do concubinato. É preciso salvar a família da excessiva familiaridade. A familiaridade, dizem os ingleses, gera o desprezo. O desprezo é fatal. A ansiedade dos filhos por abandonar a tirania do lar paterno é tão grande que os atira para a miséria de constituir novas famílias em quase tudo semelhantes àquela que deixaram. É um circulo vicioso.

É um vício circular. Numa concepção anarco-conservadora, que visasse proteger a liberdade dos familiares com vista à perpetuação da família, a felicidade seria uma função simples de poder pagar três rendas de casa. Ou de transformar cada assoalhada num apartamento, ou de desdobrar cada T3 em 3 T1's cada uma com a sua muralha, nem que fosse de contraplacado, cada um com a sua chave. Em última análise, quando não houvesse dinheiro para isso, seria preferível misturar famílias, trocando camas de casa para casa, de modo a separar os casais e os respectivos filhos, num regime de holiday home.

A família é uma instituição que corre perigo. Com razão. É uma instituição insuportável. É uma mini-Mafia, com abraços e facadas, lágrimas e jantaradas, com a desvantagem de ser não-lucrativa. É uma pandilha permanentemente com os azeites e os óleos de Fula. É um pandemónio fascistóide. É uma Cosa Nostra que preferíamos fosse Dotra pessoa qualquer.

É preciso avançar para a família do futuro: para as cooperativas sanguíneas, onde cada um tivesse o seu cantinho, onde as crianças se considerassem adultas aos 12 anos, os adultos recuperassem a irresponsabilidade da adolescência aos 35 anos e ninguém estivesse com ninguém sem que lhe apetecesse estar. É preciso reinventar a família como uma comunidade multi-etária de compinchas livres e respeitadores. De modo a mais ninguém poder sujeitar os parentes encarcerados à sua opinião sobre a recandidatura de Mário Soares, ou descascar uma só laranja em frente do televisor, ou despir uma só peúga que fosse, ou cortar as unhas dos pés na presença de menores, ou dar impunemente, em plena sala de estar, no seio da família, um único e preguiçoso pum. E, em vez de pedir desculpa, sorrir, e pedir que alguém lhe passe a TV Guia." 



Miguel Esteves Cardoso