domingo, 20 de março de 2011

Preciso tanto dele...


"Eu sei que a beleza e o silêncio parecem ser mundos perdidos. Não sei se será porque o coração de muitas pessoas vagueie entre uma sala de troféus e um museu com figuras de cera ( e as assuste que, ao pararem, de desvaneçam as brumas e fique mais nítido tudo o que lhes falta). Muitas fogem do silêncio como se ele não as levasse ao encontro de si. Acordam com as noticias da rádio. Vão para o trabalho com as noticias de trânsito. Tomam café ou almoçam, a correr, por entre noticias da televisão. Regressam com as noticias. E adormecem, no sofá, embalados por elas. O silêncio, até há pouco, resumia-se a um minuto, por homenagem, diante da morte de alguém (e, mesmo assim, vai sendo substituído por salvas de palmas)

Ora, eu acho que o silêncio está à beira da extinção. O silêncio que nos permite meditar. E sentir. E contemplar, com júbilo, com espanto e com surpresa. O silêncio que nos permita sentir a presença de alguém, juntinho a nós e que, mesmo entre o burburinho dos gestos, nos escute, sem falarmos.

Não sei se do silêncio se chega mais depressa à beleza. Sinto que sim. Mas acho que não chega estar vivo para se ser feliz. Precisamos de ser imaginados, com encantamento, por alguém.
Não precisa de ser um arquitecto, excêntrico ou visionário. Nem uma mãe, por fora para sempre, ao pé de nós. Mas alguém que nos permita meditar, que nos aconchegue ao mundo, discretamente, que - entre o burburinho dos gestos - nos escute, mesmo sem falarmos e, de surpresa, se transforme na nossa lagoa do silêncio."

Eduardo Sá

Retirado do blog Deixa Entrar o Sol

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